quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Momento #15
sábado, 18 de fevereiro de 2012
Ambição (pouco) Natural

“Quero poder percorrer o Mundo sem me perder, quero conhecer todos os cantos, os cheiros, os aromas, quero sentir o calor e o frio sazonais, quero luz…”
“Hm….”, pensou Manuel por uns instantes, “Se tu queres tudo isso, posso dar-te rotas que tu podes mudar e ajustar de acordo com os locais que queres conhecer e posso dar-te a possibilidade de te guiares pelas estrelas, sem que nunca te percas, como foi teu pedido”
Bianca pensou por uns instantes: percorrer o Mundo guiada pelas estrelas, conhecer todas as culturas e seres, ver todas as cores que a Natureza tem para nos mostrar. Era tudo com que sempre tinha sonhado! Achou, no entanto, que Manuel tinha uma atitude demasiado benemérita…Dar algo tão precioso sem nada pedir em troca? Então, atacou com a pergunta: “Que queres tu para me dares tudo isso?”, “Nada. Considera-o como uma dádiva. Mas…nunca poderás retirar o teu pedido, nem mesmo quando ele deixar de ser vantajoso para ti! Nunca nenhum outro organismo teve essa hipótese e tu não serás excepção!”
Pareceu-lhe justo e resolveu aceitar.
Começou por visitar locais que nunca tinha tido possibilidade de ver senão em capas de revistas e filmes, saboreou todos os aromas e sentiu todas as fragrâncias existentes. A Natureza pareceu-lhe tão perfeita e estruturada! Viu animais de todos os tamanhos: desde elefantes a formigas que carregavam no seu dorso muito mais que o seu peso.
Certa noite, ficou obcecada com uma luz que insistiu em perseguir, confundindo-a com uma estrela especialmente brilhante. Seguiu-a e deparou-se com um cenário desolador: vermelho crepitante, lindo à vista, perigoso a todos os outros níveis, semelhante a um pedaço de astenosfera emergente; era como se a Terra a convidasse a visitar o seu interior e a conhecer os seus segredos mais obscuros. Bianca, qual Ícaro, aproximou-se demasiado…o suficiente para não poder seguir qualquer outra luz estrelar.
Por breves momentos desejou nunca ter aceite a proposta de Manuel que, inevitavelmente, a tinha levado àquele cenário. Lembrou-se que lhe era impossível e ouviu a voz do homem ecoar na sua cabeça: “Afinal, a traça só morre junto às lâmpadas porque não a distingue de uma estrela. Sim, a Natureza é perfeita e complexa, até na sua aparente estupidez.”
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Da janela conto as noites
Toca o despertador pela terceira vez consecutiva (aquele adiar estúpido e ridículo de mais 5 minutos, como se fossem fazer a diferença na tonelada que se fazia sentir em seus olhos). Levanta-se, cambaleando, e dirige-se à janela. Olha para o exterior, para a paisagem que esperava ver. Apercebe-se da imbecilidade que é olhar através de uma janela que apenas torna visível mais betão. Recolhe-se, novamente.
A caminho de uma outra divisão aleatória da sua casa, ainda oscilando com sono, Marta tropeça dos seus próprios pés, toscos, e deixa-se cair por inteiro. Não se magoa, por sorte. Levanta o corpo tosco e prossegue caminho.
Volta a olhar por uma outra janela, de uma outra divisão, que revela mais que parede e franze a testa. Estranha o escuro que vem de fora, de uma rua onde o vento continua a soprar. "Será já noite?", questiona-se, prontamente. Sim, tinha escurecido. Tinha passado mais um dia e não, as horas que se haviam passado não se resumiram a estes acontecimentos aparentemente sem sentido. Marta tinha desenvolvido outras actividades entre o acordar e o vislumbre da janela, entre este e a queda e entre a queda e o novo vislumbre.
A verdade é que estas situações pontuais e desinteressantes caracterizaram o seu dia e o de todas as pessoas que se dão ao trabalho de viver cada hora: acordou, errou, tropeçou, caiu, levantou-se, enfrentou o espelho do erro, deslumbrou-se, concluiu e, pouco depois, adormeceria, em busca de um novo dia seguinte.
sábado, 24 de setembro de 2011
Bem-Haja
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Momento #14

E, de repente, sem justificação, o quente volta e os dias de Outono metamorfizam-se.
No entanto, os cheiros e cenários permanecem... Quase que me enganavam!
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Depressa e bem, não há quem.

07:25. Faltam exactamente 5 minutos para que deva sair de casa, a caminho do trabalho. A verdade é que só entra às 9 da manhã, mas o ritmo alucinante do trânsito obrigam a que adiante a sua partida.
Ainda sim, não se conseguiu decidir acerca da roupa a vestir. O calor infernal que se instalou não deixa saber qual a melhor combinação para suportar o suor a escorrer vertiginosamente junto ao corpo.
Quando, finalmente, se decide, às 07:37, sai de casa apressado, pois sabe que será o suficiente para apanhar mais trânsito que o costume.
Já sufocado na estrada, liga o rádio e o dia de hoje parece-lhe igual ao de ontem e a todos os da semana passada, pelo menos: fogos activos, fogos que estavam extintos e que agora estão activos, corrupção, fogos postos, alertas vermelhos devido às altas temperaturas, mortos, acidentes, doentes que ainda ficaram mais doentes, ao procurarem tratamento, poderosos que saem ilesos, casos de justiça arquivados, a notícia de que os Estados Unidos já voltaram a meter o dedo em assuntos que não lhes dizem o mínimo respeito, em vez de tentarem resolver os seus problemas.
Olha, desorientado, para todos os lados. As notícias da rádio enchem os seus ouvidos e começam a misturar-se umas com as outras, tal não é o cansaço de mais do mesmo logo pela manhã.
Desliga o rádio e olha para o exterior. Lá fora, um taxista de bigode insulta um outro condutor por uma pior execução de uma manobra e, mesmo sem este último lhe dar resposta, continua na sua roga entre dentes, acabando quase por afugentar o passageiro do banco de trás. Uma mulher deixa o carro ir abaixo e é logo alvo de piadas masculinas, como se o que aconteceu se prendesse com o facto de ela ser mulher.
Olha para o carro do lado. Uma mãe enterra a cabeça entre os braços, que tinha pousados no volante, como que implorando por dois segundos de descanso, ao mesmo tempo que, no banco de trás, duas crianças lutam pelo mesmo brinquedo e uma outra chora repetidamente e quase até não ter mais ar disponível para inspirar.
Finalmente, o trânsito começa a circular normalmente e a chegada ao trabalho é feita em 15 minutos. A camisa que tinha vestido pouco tempo antes, e apesar de ter viajado com o ar condicionado ligado, caso fosse torcida, era capaz de ajudar a mitigar alguns fogos a nível nacional. Da testa escorrem grossas pingas de suor, que rapidamente limpa com um lenço de papel.
Uma colega de trabalho aproxima-se e diz-lhe em tom de brincadeira “Sabes…ontem o meu filho perguntou-me porque é que, se a Terra gira em torno de si própria, nós não damos por isso. E eu não lhe soube responder!”. Ele, sem mostrar um sorriso ou quebrar o ar sisudo que tinha ganho, devido ao cansaço que já levava antes de pegar ao serviço, respondeu “Diz-lhe que temos mais que fazer. Estamos todos muito ocupados para reparar nas pequenas coisas.”
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Have I told you there's no one above you?

Deito-me nos lençóis que estreaste, agarrada à camisola que vestiste. O teu cheiro penetra o meu interior e desperta em mim todos os sentimentos que tenho quando te vejo ou pressinto. Fecho os olhos, imagino-te ali ao meu lado, respirando junto ao meu pescoço, apertando-me contra o teu peito, onde oiço o bater ritmado do teu coração. Acho que nunca ouvi um batimento tão certo e forte, como se tivesses uma banda de percussão bem ensaiada dentro de ti. Ainda com os olhos cerrados, entrelaças, com força, as tuas pernas com as minhas e quase que parecemos as raízes seguras de uma árvore centenária, cobertas de terra e tão completas por se enredarem. Vais deslocando suavemente os teus dedos, entre os quais prendes mechas do meu cabelo, e fazes-me adormecer. No entanto, faltou o beijo sentido a que me habituaste e que a minha mente, por mais que tente, não tem a capacidade de recriar…falta-lhe sempre qualquer coisa (talvez seja o teu sabor ou a textura dos teus lábios. Existem falhas no meu subconsciente que nunca entenderei.). Sem o beijo, desperto rapidamente do sono que me ia consumindo lentamente e entendo que, na verdade, nunca ali estiveste desde o momento em que abracei a tua camisola, já amarrotada de todos os movimentos que a obriguei a fazer junto a mim. Sinto um vazio dentro no meu interior, algo me falta por não estares comigo neste dia de Verão, algo que me corrói e que, apesar de desaparecer com a tua presença, rapidamente me volta a assolar assim que bates a porta de minha casa. Sinto saudades.
De repente, a campainha toca três vezes e eu apresso-me a abrir. Não será correspondência, ou o toque teria sido comum aos outros andares. Abro a porta e presenteias-me com um sorriso e um olhar aconchegante. Chegaste, finalmente.
Beijas-me como não fazias desde ontem e, no meu interior, tudo o que estava oco, foi preenchido por ti e pela tua presença. Abraço-te. "Nunca deixes a saudade ocupar o teu lugar", sussurro entre os lábios, por fim.