Toca o despertador pela terceira vez consecutiva (aquele adiar estúpido e ridículo de mais 5 minutos, como se fossem fazer a diferença na tonelada que se fazia sentir em seus olhos). Levanta-se, cambaleando, e dirige-se à janela. Olha para o exterior, para a paisagem que esperava ver. Apercebe-se da imbecilidade que é olhar através de uma janela que apenas torna visível mais betão. Recolhe-se, novamente.
A caminho de uma outra divisão aleatória da sua casa, ainda oscilando com sono, Marta tropeça dos seus próprios pés, toscos, e deixa-se cair por inteiro. Não se magoa, por sorte. Levanta o corpo tosco e prossegue caminho.
Volta a olhar por uma outra janela, de uma outra divisão, que revela mais que parede e franze a testa. Estranha o escuro que vem de fora, de uma rua onde o vento continua a soprar. "Será já noite?", questiona-se, prontamente. Sim, tinha escurecido. Tinha passado mais um dia e não, as horas que se haviam passado não se resumiram a estes acontecimentos aparentemente sem sentido. Marta tinha desenvolvido outras actividades entre o acordar e o vislumbre da janela, entre este e a queda e entre a queda e o novo vislumbre.
A verdade é que estas situações pontuais e desinteressantes caracterizaram o seu dia e o de todas as pessoas que se dão ao trabalho de viver cada hora: acordou, errou, tropeçou, caiu, levantou-se, enfrentou o espelho do erro, deslumbrou-se, concluiu e, pouco depois, adormeceria, em busca de um novo dia seguinte.