“Diz-me…o que queres tu da tua vida?”
“Quero poder percorrer o Mundo sem me perder, quero conhecer todos os cantos, os cheiros, os aromas, quero sentir o calor e o frio sazonais, quero luz…”
“Hm….”, pensou Manuel por uns instantes, “
Se tu queres tudo isso, posso dar-te rotas que tu podes mudar e ajustar de acordo com os locais que queres conhecer e posso dar-te a possibilidade de te guiares pelas estrelas, sem que nunca te percas, como foi teu pedido”
Bianca pensou por uns instantes: percorrer o Mundo guiada pelas estrelas, conhecer todas as culturas e seres, ver todas as cores que a Natureza tem para nos mostrar. Era tudo com que sempre tinha sonhado! Achou, no entanto, que Manuel tinha uma atitude demasiado benemérita…Dar algo tão precioso sem nada pedir em troca? Então, atacou com a pergunta:
“Que queres tu para me dares tudo isso?”,
“Nada. Considera-o como uma dádiva. Mas…nunca poderás retirar o teu pedido, nem mesmo quando ele deixar de ser vantajoso para ti! Nunca nenhum outro organismo teve essa hipótese e tu não serás excepção!”
Pareceu-lhe justo e resolveu aceitar.
Começou por visitar locais que nunca tinha tido possibilidade de ver senão em capas de revistas e filmes, saboreou todos os aromas e sentiu todas as fragrâncias existentes. A Natureza pareceu-lhe tão perfeita e estruturada! Viu animais de todos os tamanhos: desde elefantes a formigas que carregavam no seu dorso muito mais que o seu peso.
Certa noite, ficou obcecada com uma luz que insistiu em perseguir, confundindo-a com uma estrela especialmente brilhante. Seguiu-a e deparou-se com um cenário desolador: vermelho crepitante, lindo à vista, perigoso a todos os outros níveis, semelhante a um pedaço de astenosfera emergente; era como se a Terra a convidasse a visitar o seu interior e a conhecer os seus segredos mais obscuros. Bianca, qual Ícaro, aproximou-se demasiado…o suficiente para não poder seguir qualquer outra luz estrelar.
Por breves momentos desejou nunca ter aceite a proposta de Manuel que, inevitavelmente, a tinha levado àquele cenário. Lembrou-se que lhe era impossível e ouviu a voz do homem ecoar na sua cabeça: “Afinal, a traça só morre junto às lâmpadas porque não a distingue de uma estrela. Sim, a Natureza é perfeita e complexa, até na sua aparente estupidez.”