
Deitei-me na areia e nelas distingui imediatamente um triângulo perfeito (que mundo tão geométrico o nosso!). E o som da rebentação das ondas, e o cheiro a maresia e os pés enterrados na areia húmida, parecendo esconderem-se de uma qualquer vergonha.
Aproximaste-te de mim, lentamente, e sentaste-te ao meu lado, com os joelhos ao peito. "Não sentes como o Mundo é perfeito?", disseste como que a deixar escapar as palavras entre os dentes; "Não é perfeito...é redondo. Se andarmos demais na mesma direcção, cairemos". Olhaste-me pensativo e voltaste a fixar-te no oceano. "Já imaginaste onde acaba o oceano?", voltaste a perguntar, assemelhando-te a uma criança na idade dos porquês. Não te respondi, simplesmente por não ter resposta alguma para te dar e sentir-me-ia estúpida por admiti-lo.
Levantaste-te de repente e inspiraste. "Sabes, o som do mar faz-me querer dançar" e esticaste-me a mão, a convidar-me para me juntar a ti na dança. Entreguei-te a minha e puxaste-me para junto do teu corpo. Encostaste o teu queixo à minha cabeça, apertaste-me a cintura e agarraste-me a mão, em forma de pega. "Fecha os olhos", disseste, "Dancemos..."; "Eu não sei dançar. Nunca o soube, tal como não sei onde acaba o oceano...". Desencostaste-te e olhaste-me nos olhos, sem medo. Riste-te simpaticamente. "O Oceano não acaba, expande-se cada vez mais. Daí que haja sempre música junto a ele. E a vantagem de o Mundo ser redondo é que tem uma rotação mais perfeita. Não precisas de saber dançar, agarra-me apenas... A Terra faz o resto e dançaremos até ao raiar do Sol."
E dançámos uma valsa, aos olhos da Lua. E dançámos até a Terra parar. E ainda dançamos.
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